Alerta no mar: navios pegam fogo ao transportar carros elétricos 372p65
Enquanto o mundo se aproxima de soluções de transporte mais ecológicas a indústria marítima enfrenta novos desafios, afinal, nos últimos anos aumentou a quantidade de navios que pegam fogo por transportarem baterias de lítio. Por exemplo, em janeiro de 2024 o Genius Star XI levava baterias de lítio do Vietnã para San Diego quando pegou fogo. A tripulação acionou a Guarda Costeira. Outro caso grave ocorreu em julho de 2023. O Fremantle Highway, carregado de automóveis pegou fogo perto da costa da Holanda. Em 2022, o Felicity Ace também pegou fogo e, como resultado, afundou no Atlântico. Finalmente, em 2020 o Hoegh Xiamen sofreu perda total. As autoridades apontaram as baterias de lítio como possível causa em todos esses casos. 413c42

O incêndio no navio Hoegh Xiamen destruiu mais de 2.400 veículos usados. Enquanto isso, no Felicity Ace cerca de 4.000 carros de luxo — entre eles Porsches, Audis e Bentleys — foram parar no fundo do mar. Diante desses episódios, a indústria marítima global acendeu o alerta vermelho.

O lítio, um mineral que tem tudo a ver com o Brasil 4d3j6l
Antes de seguir, vale lembrar que José Bonifácio, o “Patriarca da Independência”, descobriu em 1800 o mineral petalita (LiAlSi₄O₁₀) que contêm lítio enquanto estudava mineralogia na Europa. Mais tarde, em 1817, Johan August Arfwedson isolou o lítio da petalita pela primeira vez — também na Suécia, onde Bonifácio se destacou. Por este feito, JB garantiu seu lugar na história da ciência como o único brasileiro ligado à descoberta de um novo elemento químico.

Feito o reparo, vamos em frente. Os veículos elétricos contêm baterias de lítio que podem superaquecer e causar incêndios que se espalham rapidamente, produzem gases tóxicos, tornando-os difíceis e perigosos de extinguir.
Mais lidos
Oceano Sem Mistérios: Uma Nova Pesquisa ReveladoraBaleias Emocionam em Filme Publicitário e criam ‘case’Escurecimento dos oceanos: nova e silenciosa ameaça ao planetaA HDI Global, uma das maiores seguradoras do mundo com atuação em mais de 175 países, traz um dado importante. Como as baterias de lítio alimentam os veículos elétricos, a expectativa é que a demanda global por esse tipo de bateria cresça mais de cinco vezes até 2030.
Eis por que a indústria marítima global acendeu o alerta vermelho.
PUBLICIDADE
Cada vez mais navios pegam fogo 3s1x3x
Nesta primeira semana houve mais um sinistro. Na madrugada de 3 de junho o Morning Midas, que transportava centenas de veículos elétricos da China para o México, pegou fogo de forma tão rápida e violenta que o sistema de supressão de incêndios não conseguiu contê-lo. Os 22 tripulantes abandonaram a embarcação em um bote salva-vidas e foram resgatados por um navio comercial próximo.

Segundo o New York Times, um porta-voz da Guarda Costeira disse que estava permitindo que o fogo queimasse apenas observando a uma distância segura por causa do risco de que as baterias de lítio pudessem explodir.
Leia também
Acidente com dois petroleiros russos ameaça o Mar NegroNova filmagem do Titan mostra os destroços no fundo do marNavio Concórdia que abastecia Fernando de Noronha naufragaEnquanto isso, o site especializado Shipping And Freight Resource revelou que ‘o navio com bandeira liberiana (mais um que burla a lei usando bandeiras de conveniência) transportava aproximadamente 3.000 veículos, incluindo cerca de 800 veículos elétricos (EVs) e híbridos’.
‘Mas o fogo em si ainda está queimando. As baterias de lítio estão há muito tempo sob escrutínio no setor de logística, especialmente quando enviadas em escala. Sua densidade de energia, embora seja um benefício para a mobilidade elétrica, também representa perigo de incêndio devido ao risco de fuga térmica’.
Os riscos invisíveis da carga k3t49
Todas as informações deste tópico têm como fonte o Shipping And Freight Resource.
Muitos protocolos de segurança contra incêndio a bordo das embarcações não foram projetados com EVs (em outras palavras, baterias de lítio) em mente. Sistemas de supressão de incêndio como inundações de CO2 podem não ser suficientes para incêndios de bateria de alta temperatura e auto-sustentáveis.
De acordo com a Special Provision 961 do Código Internacional de Mercadorias Perigosas Marítimas os veículos alimentados exclusivamente por baterias de lítio – ou veículos elétricos híbridos com baterias de lítio e motores de combustão – não estão sujeitos às disposições completas do Código, desde que sejam atendidas condições específicas de segurança. Esta isenção permitiu que muitos veículos elétricos fossem tratados como mercadorias não perigosas no transporte marítimo.
Aí está a explicação para tamanha quantidade de incêndios.
PUBLICIDADE
Um possível novo desastre ambiental no Alasca? 2w4c42
O Alasca e suas águas prístinas já sofreu com um dos maiores desastres ecológicos da história recente. Aconteceu em 1989 quando o petroleiro Exxon Valdez, comandado pelo irresponsável Joseph Hazelwood decidiu enfrentar a tediosa viagem enchendo a cara, e largando o comando para um subalterno sem a menor qualificação.

Desse modo, faltando 4 minutos para a meia-noite, o navio ‘subiu’ no recife Bligh, um dos mais conhecidos perigos à navegação naquelas águas. O impacto da colisão rasgou casco do navio, causando o derramamento de cerca de 11 milhões de galões de petróleo bruto na água.
Nos meses seguintes funcionários da Exxon, autoridades federais e mais de 11.000 residentes do Alasca trabalharam para limpar o derramamento de óleo que, mesmo ados mais de 30 anos, ainda provoca efeitos nefastos para a fauna e a flora da região.
Comandante bêbado escapa de punição 675nz
Em março de 1990, Hazelwood se livrou das acusações criminais. O tribunal o condenou por uma única contravenção por negligência. Ele pagou multa de US$ 50.000 e precisou cumprir 1.000 horas de serviço comunitário. É mole?
Assim age a irresponsável indústria que transporta cerca de 90% do comércio global em porões de navios. A regulamentação do setor é tão frouxa que até hoje permite a prática conhecida como ‘bandeiras de conveniência’.

A excrescência permite que armadores registrem navios em países periféricos. É o caso do Morning Midas, matriculado na Libéria. As legislações destes países tratam com absoluto desprezo regras trabalhistas, ambientais e de segurança. Isso acaba por liberar navios caindo aos pedaços para seguir navegando, muitos com tripulações em regime análogo à escravidão. E embarcações operam sob o comando de gente despreparada — tudo em nome da redução de custos.
Assim, quando um acidente acontece em razão da espantosa negligência de certos comandantes, a punição se torna um escárnio como no caso de Joseph Hazelwood que comandava o Exxon Valdez.
PUBLICIDADE
Finalmente, sim, há grande risco de acidente ecológico. O Morning Midas carregava 1.800 toneladas de combustível que, provavelmente, serão despejadas no prístino Mar de Bering.
Explosão e fogo em avião de ageiros 3t15b
O NYT informou que as baterias de lítio também representam riscos para as viagens aéreas. Nos últimos meses, a Southwest Airlines e várias companhias aéreas na Ásia reforçaram as restrições durante os voos quanto ao uso e transporte dessas baterias. As proibições na Ásia entraram em vigor depois que um incêndio destruiu um jato de ageiros em um aeroporto na Coreia do Sul em janeiro.
Chamas em navios são notoriamente difíceis de apagar 2d5o33
O Washington Post publicou uma declaração de Sean DeCrane, diretor da Associação Internacional de Bombeiros, que explica melhor as dificuldades: Os incêndios elétricos em navios são notoriamente difíceis de apagar, resistindo aos efeitos dos extintores tradicionais à base de espuma e pequenas quantidades de água. Isso ocorre porque os incêndios de bateria se espalham através do acúmulo excessivo de calor de uma célula de bateria para outra, e desta bateria para a próxima.
Submarino nuclear russo, com bateria de lítio, explode e mata 1l82m
Segundo o Lithium Safe, em 1º de julho de 2019 um submarino nuclear secreto russo AC-31, ou Losharik, sofreu um incêndio mortal e uma explosão a bordo enquanto operava debaixo da água no Mar de Barents. 14 oficiais morreram devido à alta concentração de fumaça venenosa dentro do compartimento.

A mesma fonte revela que os submarinos nucleares utilizam baterias recarregáveis como reserva — na sua maioria baterias tradicionais de chumbo-ácido. Contudo, o Losharik aparentemente tinha uma bateria de lítio mais moderna, semelhante às que são usadas em automóveis elétricos. À princípio, causa do incêndio foi um curto-circuito que ocorreu enquanto o submarino estava atracando na sua nave-mãe, Podmoskovye, o que levou a uma dissipação de calor da bateria de lítio, que posteriormente explodiu e pegou fogo.
Lítio provoca série de incêndios em superiates 5z6z1p
A matéria do Lithium Safe mostra que os iates dos super-ricos não escaparam do fogo. Em 7 de setembro de 2018, ocorreu um incêndio na garagem do superiate My Kanga, ancorado na zona costeira da Croácia. Em menos de 25 minutos as chamas atingiram o convés superior, em seguida houve explosões. A investigação de segurança publicada em 2019 concluiu que o incêndio foi provavelmente causado pelas baterias de lítio.

E por qual motivo estas baterias são tão vulneráveis? O risco vem de um fenômeno chamado ‘fuga térmica’, quando a temperatura de uma bateria aumenta incontrolavelmente, levando a incêndios, explosões e à liberação de gases tóxicos’.
PUBLICIDADE
Por outro lado, a matéria cita um artigo do SuperYacht News — que procuramos, mas não encontramos. O texto informa que ocorreram 55 incêndios em superiates desde 2000, o equivalente a cerca de 1% das entregas.
Para encerrar este capítulo da descarbonização, o site especializado Cars Coops informou que algumas companhias de navegação, como a norueguesa Havila Kystruten, agora se recusam a transportar veículos elétricos, julgando o fator de risco muito alto.
Assista ao vídeo do navio Morning Midas em chamas no mar

Assista a este vídeo no YouTube
Você sabia que o escurecimento dos oceanos é uma nova e silenciosa ameaça ao planeta?